Quando ocorre o segundo caso, as fotografias podem também ser utilizadas como instrumento de pesquisa, isto é, como um meio que o pesquisador emprega para induzir o pesquisado a buscar ele mesmo a informação que fará avançar a reflexão científica. Aliás, nada impede que uma mesma imagem, seja ela emique ou etique, cumpra diversos papéis durante a pesquisa e na demonstração dos resultados.
Aproveitamos as duas perspectivas descritas acima neste trabalho etnográfico, já que ele foi elaborado por uma pesquisadora “estrangeira”, para quem o espaço da CEUC era completamente novo; e uma pesquisadora “nativa”, ex-moradora da Casa por quatro anos e meio. Deste modo, buscou-se representar estes dois pontos de vista distintos e demarcar seus significados heurísticos específicos. Assim, a estratégia adotada para orientar a visão do espectador-observador (que vê as fotos realizadas) é a que apresenta um olhar “de fora” – o olhar etique – da investigadora que teve sua presença facilitada pela outra que já foi “de dentro” – a que possui o olhar emique (Guran, 1986; 1990). Essa oposição vem traduzida nas tonalidades distintivas dos fotogramas, que simbolizam, por sua vez, percepções diferentes sobre as relações sociais na Casa e sobre as diversas formas de ocupação daquele espaço.
As imagens em P&B registram o olhar “sem o conhecimento de causa”, feitas por alguém que não traz consigo as sensações psíquico-sociais de ser ou ter sido uma ceuquiana.
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Uma sorte de olhar atento, treinado pela etnografia, mas distanciado. As imagens coloridas mostram a Casa sob a perspectiva daquela que não só observa ou examina, mas percebe e revive as relações interpessoais das moradoras; e é justamente isso que as tonalidades quentes e frias das cores dos fotogramas, registrados por uma antiga ceuquiana, querem representar.
Todavia, notem bem: não se pretende com este expediente estabelecer hierarquias valorativas entre os dois olhares, mas apenas marcar sua diferença, já que eles partem de experiências distintas. Cada um considera, se interessa, julga e congela um tipo de instante que tem a ver com a disposição pessoal daquele que olha. Está em jogo nesta dupla forma de apresentação mais o “sujeito” que observa do que o “objeto” observado. Evidentemente, e por isso mesmo, as imagens descritas pelas câmeras variam do familiar ao típico.
A Casa e as dimensões físicas e simbólicas do espaço
A Casa da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC) é um prédio vertical situado na Rua General Carneiro, entre os edifícios da Reitoria e do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, no centro de Curitiba, onde estão instalados os Setores de Educação, de Ciências Humanas, Letras e Artes, distante cem metros da Rua XV de Novembro (conhecida como Rua das Flores).
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